quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Vodu africano
O vodu se originou nos reinos africanos de Fon e Congo, talvez há seis mil anos. A palavra "vodu" vem do idioma fon, no qual ela significa "sagrado", "espírito", "divindade". Outras palavras usadas no vodu hoje em dia também vêm dos idiomas fon e congo. Por exemplo, uma sacerdotisa vodu muitas vezes porta a designação mambo ou manbo. Trata-se da combinação da palavra fon para "mãe" ou "amuleto mágico" com a palavra congo para "cura".


O reino fon se localizava na região sul do atual Benin, definida por alguns antropólogos como "o berço do vodu". As pessoas também praticam o vodu no Togo, Gana e outros países do noroeste africano. Aproximadamente 30 milhões de pessoas no Togo, Gana e Benin praticam o vodu hoje [fonte: National Public Radio: Radio Expeditions (em inglês)]. O vodu também é a religião oficial de Benin, onde 60% dos habitantes são seguidores [fonte: BBC (em inglês)].
Já que o vodu representa primordialmente uma tradição oral, os nomes dos deuses, bem como as características dos principais rituais, podem mudar de região para região ou geração para geração. No entanto, o vodu africano ostenta diversas qualidades consistentes, não importa onde seja praticado. Além da crença em múltiplos deuses e em possessão espiritual, elas incluem:
• veneração de ancestrais;
• rituais ou objetos usados para conferir proteção mágica;
• sacrifícios de animais para demonstrar respeito por um deus, conquistar-lhe os favores ou agradecer;
• o uso de fetiches, ou objetos cujo propósito é conter a essência do poder de determinados espíritos;
• danças cerimoniais, que muitas vezes envolvem trajes e máscaras elaborado;
• música e instrumentos cerimoniais, incluindo especialmente tambores;
• adivinhação profética pela interpretação de atividades físicas, como jogos de sementes ou búzios, ou a seleção de pedras de determinadas cores dispostas em torno de uma árvore;
• a associação de cores, comidas, plantas e outros itens a loas específicos, e o uso desses itens para prestar tributo ao loa.
Muitos desses traços, especialmente o culto aos ancestrais, o politeísmo e a importância da música e dança são importantes também em outras religiões africanas. Dessa forma, na prática o vodu se assemelha bastante a diversas outras religiões africanas tradicionais. Muitos dos cultos tem um aspecto de celebração, além do serviço religioso, incorporando música bem ritmada, dança e cânticos. Muitos rituais aproveitam ambientes naturais, como rios, montanhas e árvores. Por meio da decoração e consagração, objetos de uso cotidiano como panelas, garrafas ou porções de animais abatidos se tornam objetos sagrados, de uso ritual.

Foto cortesia Herbert Hoover Presidential Library and Museum
Este altar vodu incorpora bonecas, garrafas e objetos comuns
Em certas partes da África, as pessoas que desejam se tornar líderes espirituais na comunidade vodu podem se inscrever em centros religiosos, semelhantes a conventos ou mosteiros. Em algumas comunidades, os iniciados morrem simbolicamente, passando três dias e noites em completo isolamento, antes de voltar ao mundo exterior. Os iniciados aprendem os rituais, cores, alimentos e objetos associados às diferentes divindades, bem como maneiras de se comunicar com os loas. Os espíritos têm diferentes personalidades e diferentes requerimentos quanto aos seus seguidores, mais ou menos como os deuses na mitologia grega e romana.
Algumas pessoas associam o vodu ao mal, mas muitos de seus rituais, até mesmo aqueles que incluem o sacrifício de animais, pretendem passar a idéia de respeito e paz. Os líderes religiosos do culto se tornam líderes comunitários, oferecendo orientação e resolvendo disputas. Os sacerdotes, sacerdotisas e outros praticantes dedicam seu trabalho a ajudar os outros, e tratar de seus problemas. Os líderes também freqüentemente oferecem cuidados médicos, na forma de medicina tradicional. Maldições, feitiçaria e encantos de objetivo malévolo se enquadram em uma categoria conhecida como bo. No entanto, a maior parte dos antropólogos concordam em que os líderes do vodu têm conhecimentos sobre o bo, que constitui uma disciplina separada, baseado na crença de que é preciso compreender para combater a prática. Feiticeiros conhecidos como botono, e não sacerdotes ou sacerdotisas de vodu, são supostamente os conhecedores dos encantamentos malévolos mais poderosos. Em alguns casos, porém, há pessoas que são sacerdotes e botonos ao mesmo tempo, dependendo da situação.
Essa forma africana de vodu é precursora da praticada no Haiti e em outras partes do Hemisfério Ocidental. As regiões da África em que o vodu prosperou também são regiões de origem de forte tráfico de escravos. A escravidão levou o vodu à América. Na próxima página, veremos as mudanças que aconteceram com o vodu do lado oposto do Atlântico.
O Bebê Poderoso
Em muitas comunidades vodu, as pessoas consideram os gêmeos como sagrados. De acordo com a tradição, cada gêmeo porta metade da alma de seu par. Caso um gêmeo morra, o outro muitas vezes carrega com ele um boneco duplo, que porta o espírito do irmão perdido. No vodu haitiano, os gêmeos têm poderes especiais que podem ser perigosos, e uma cerimônia dedicada ao loa Dossou impede que eles causem o mal. No Benin, os gêmeos também simbolizam fertilidade.

evaldo borges

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